sexta-feira, 4 de abril de 2014

Memórias em silêncio


Junho de 1998. 
Passava férias em Lisboa, na casa dos meus tios e com "aquele" primo que todos temos. Num dia de junho do qual não tenho memória o meu primo Pedro convida-me para ir à expo98 ver uns tais de Silence 4. Eu, sedento de aventura que não tinha em Torres aceitei de pronto....e começava aqui a ser escrita uma página da minha vida que jamais esquecerei.... Nessa noite, além de ter comido o meu primeiro hambúrguer do McDonalds ouvi um concerto que me fica na memória. A partir daí passei a ser fã dos Silence 4 e fiz dos Silence 4 os meus ídolos. 
Os meus amigos dessa fase recordam com toda a certeza o discman que trazia sempre comigo com um único cd apenas, o Silence Becomes It. Cd que sabia de trás para a frente, da frente para trás e até em tradução para português sabia de cor. Passei a usar tenis rasos e t-shirt (ou camisa de manga curta) por cima de uma long sleeve. Tinha no meu quarto um poster gigante, mas gigante mesmo, maior que eu que ocupava toda a parede do meu quarto. Poster esse tirado da porta de uma loja de discos que o deixara durante a noite cá fora...e anos mais tarde tive como nick name no velho Mirc "smile on" retirado da música to give. Os Silence 4 marcaram uma fase da minha vida, tempos antes perdera o meu pai, chumbara de ano e tinha sido operado a um joelho maldito...operação essa que correu tão mal como o ano me estava a correr e ainda hoje sinto dores. Os Silence 4 foi como a banda sonora do recomeço da minha vida em paz, sem problemas de outrora a, agora sim, com problemas de adolescente. Assisti a mais dois concertos, um na discoteca Faraó, em Torres e no último dia na expo....esse mais difícil de ver mas nesse dia consegui ver o ensaio geral quase sozinho, numa praça sony quase vazia. No entanto fica a mágoa de não poder ter ido ao concerto do dia 18 de dezembro de 1998. Lembro-me como hoje que ouvi e gravei numa velha K7 o concerto através da rádio comercial. Durante quase um ano acordei ao som de várias músicas inéditas que nesse concerto foram cantadas, como que a tentar apaziguar a mágoa da ausência desse dia.
Sábado, 15 anos depois do meu Primo Pedro me ter mostrado o que era os Silence 4, de ter vivido metade da minha vida e já longe dos anos mágicos da adolescência .....não podia faltar. Vai ser como viver tudo outra vez e repor a justiça. Sábado lá estarei com uma história para recordar em cada verso de cada música por eles entoada....e reviver o passado. Muitos anos depois ....muitas coisas se passaram mas a paixão pelo silêncio continua viva e poderei, mesmo sabendo que s
erá a despedida, despedir-me de um grupo que foi muito importante na minha vida....uma vida com alegrias, e tristezas mas como eles próprios diziam....." Are problem star when we dont die young"

Foto: André Carvalho
Local: Lisboa
Data: abril 2014
Texto: André Carvalho

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

28 de agosto sempre!


Desde 2008 que o dia 28 de agosto para mim tem um significado forte. Neste dia cheguei e neste dia, quatro ano depois, parti da cidade que me preenche o coração.
Passado um ano da partida, e apesar de visitar quem lá deixei com regularidade....falta-me muita coisa...as saudades permanecem e são alimentadas de uma forma que sei que nunca as irei fazer desaparecer....por isso hoje, e principalmente hoje, sinto-me assim:

Lembro-me de ti
Como se fosse um regresso a casa
As ruas escuras à noite
O medo de quem quer voltar

E passo por ti
Condenado a sentir um vazio
Na hora de te abandonar
A lembrança de quem quer ficar
A cidade por descobrir
Um adeus, vou partir

Confesso-me a ti
Ó cidade de noite encantada
Lembras-me a vontade
Hoje eu vou ficar

Agarro-me a ti
Confrontado a saudade que sinto
A hora está-se a aproximar
As memórias de quem quer voltar
Um segredo que vou descobrir
O adeus, vou partir

E passo por ti
Condenado ao vazio
A ansia de querer voltar
O adeus que não te vou dizer

Espero aqui
Com o mar controlado
A história de ter um passado
A idade de te conhecer
A cidade por descobrir
O adeus, vou partir


Foto: André Carvalho
Local: Cabanas de Tavira
Data: abril 2010
Texto: André Carvalho; Tara Perdida (Lisboa  - adaptado)

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Errar



Quando pegamos num lápis para escrever, esperamos sempre escrever a melhor história de sempre. Escrevemos e escrevemos sem parar ....sempre com melhor caligrafia porque com a prática vamos escrevendo melhor. Por vezes a caneta borra a escrita sujando as linhas em branco, limpas e puras. A caneta não é uma máquina e, acima de tudo, é comandada por um ser humano que vive constantemente de erro em erro em busca da perfeição que nunca encontrará.

Quando sonhamos, sonhamos com um sorriso nos lábios. Sonhar é como viver uma segunda vida, a vida que queríamos, a vida que idealizamos....é bom sonhar....o pior será sempre repetir o erro de acordar...o despertar para a realidade.

Quando nos apaixonamos....entregamo-nos, vivemos, dividimos, choramos e sorrimos sempre ao lado de quem escrevemos textos com linhas douradas, amargas, coloridas e cinzentas, ao lado de quem com que sempre sonhámos....é o reflexo do amor....não queremos mais borrar linhas e não queremos mais acordar...queremos respeitar, respirar, viver, amar, tocar, sentir, confiar e....errar....o erro estará sempre na nossa vida como está o palpitar de um coração...errar é para quem tem sangue....para quem tem na sua alma outra alma....errar é humano e o erro passa a um simples percalço quando é reconhecido, falado, esmiuçado e ultrapassado na base de que não se repetirá. Quando o ser humano foi criado por alguma razão o foi sem nada saber....o ser humano cresce sempre na base do erro....o ser humano cai uma imensidão de vezes até aprender a andar. O ser humano diz uma vastidão de asneiras até aprender a falar....dá nós cegos na vida até aprender a viver.....mas nunca aprenderá a viver se não conseguir ver o que errou e, acima de tudo......nunca aprenderá a viver enquanto não reconhecer que errou.
Amamos, choramos, sorrimos, saltamos, andamos e caminhamos....vivemos uma infinidade de experiências e vivências mas temos de respeitar aqueles com quem dividimos o amor, os sorrisos, as lágrimas, os saltos e os amassos....


Foto: André Carvalho
Local: Costa de Caparica
Data: abril 2013
Texto: André Carvalho

terça-feira, 23 de abril de 2013

Há 15 anos que não tinha 15 anos



Há 15 anos que não tinha 15 anos!
Já tinha saudades de ter 15 anos. Essa idade onde nos julgamos ser mais do que na realidade somos. Aquela idade em que estamos lá fechados no armário, onde as borbulhas surgiam de dia para dia. Aquela idade em que o corpo cresce, a voz muda, a feições atravessam uma metamorfose constante. A idade do cabelo mais comprido e encebado que o habitual, das t-shirts largas e das calças usadas dias consecutivos só porque nos achamos os mais "cool's" da escola. A idade dos ténis rotos. A idade que temos um estilo que só nós compreendemos.
A idade que não queremos ouvir mãe, não ligamos aos conselhos do pai, detestamos os irmãos e só os amigos é que sabem...amigos esses que também têm 15 anos.
Ter quinze anos é uma espécie de maçonaria juvenil.
Há quinze anos que não tinha quinze anos, é assim que quero pensar. Durante 15 anos muita coisa se viveu...muita coisa se perdeu. Chego hoje aos trinta anos e o único pensamento que tenho ao pensar no que já passou é: "já passaram 30 anos?!" De facto foram 30 anos que voaram como tantos sonhos e planos que durante os mesmos fiz.
Foram 30 anos ao jeito do jogo da glória: um sobe e desce constante cheio de avanços e recuos até chegar à casa onde estou hoje.
Provavelmente atingi o primeiro terço da minha vida. Se podia ter sido escrita de outra forma? podia, mas a vida levou o rumo que o destino quis.
Não entro em dramas da saída dos "vintes", os sonhos dos vintes continuam de pé, os objetivos dos vintes permanecem intactos...Tenho uma vida que há 15 anos não julgava ter.... continua a faltar aquele ou aqueles que tanto quero...que tanto desejo....com os anos chegarão...e aí sim...a vida mudará o seu sentido e o seu valor...a altura em que a nossa vida passa para as mãos de outra(s) vida(s)
até lá continuarei... ontem com 15, hoje com 30, a viver com aquilo que nunca irei dispensar: a capacidade de adormecer tranquilo e andar sempre de cabeça levantada...foram 30 anos assim...serão todos os que se seguem assim.

O sonho esse continuará sempre a comandar a minha vida.


....será o segundo ano sem te ouvir a dar-me os parabéns com essa voz que ouvi desde os primeiros minutos de vida...mas continuas sempre bem viva dentro de mim.

Foto: André Carvalho
Local: Cabanas de Tavira
Data: setembro de 2011
Texto: André Carvalho

quarta-feira, 10 de abril de 2013

sinais


A vida será sempre feita de letras, palavras, frases e sinais de pontuação. 

São os sinais de pontuação que dão sentido a um texto que terminará com um ponto final parágrafo depois da última frase, da última palavra, da última letra escrita. Nesse dia espero poder ir descansado com o texto que escrevi. Espero colocar esse ponto com todo o conforto de que vivi o que tinha para viver, de que fiz feliz quem tinha que fazer. De que ri, de que chorei, de que vi e li o que tinha para rir, chorar, ver e ler. 
Na vida fazemos pausas para pensar, paramos para interrogar, paramos para exclamar ou mesmo pedir alguma coisa. Colocamos reticências quando algo fica por dizer...e às vezes o texto tem tantas reticências que percebemos que só as usamos para poder continuar a escrever aquilo que queremos muito que se escreva e que sabemos que é preferível ter reticências seguidas de palavras bonitas do que ter as palavras amargas que deveríamos dizer, correndo o risco de ter de usar pontos finais. No entanto, pontos finais não querem dizer que mudamos de assunto. Ponto final pode ser um recomeço de uma nova frase com o mesmo assunto. Os pontos finais têm essa vantagem: podemos usá-los como queremos para dar sentido ao nosso texto.
Um parágrafo pode ter muitos sinais de pontuação, o que não pode ter é ideias, assuntos relacionados com parágrafos anteriores. Um texto correto muda de assunto a cada parágrafo. Um texto correto não vem buscar temas a parágrafos anteriores. Cada parágrafo terá de ser escrito com novas ideias. Podemos usar as mesmas personagens, os mesmos locais mas com outro sentimento.
O texto que escrevemos ao longo de dias, anos, décadas ficará guardado num livro que contém milhares de histórias que nada têm haver umas com as outras ....e neste livro o nada é tanto.
O meu texto tem ainda poucas linhas, muitas palavras, algumas frases e muitos sinais de pontuação...com alguns parágrafos, uns voluntários outros forçados ....mas acima de tudo tem no seu autor a certeza de que muitas frases ainda serão escritas nos melhores parágrafos que poderá escrever.


Foto: André Carvalho
Local: Santa Cruz
Data: abril de 2012
Texto: André Carvalho

sexta-feira, 15 de março de 2013


O segredo é não tentar antecipar o que, no seu devido tempo, irá chegar.


Mares convulsos, ressacas estranhas
Cruzam-te a alma de verde escuro
As ondas que te empurram
As vagas que te esmagam
Contra tudo lutas
Contra tudo falhas
Todas as tuas explosões
Todas as tuas explosões
Redundam em silêncio
Redundam em silêncio

Nada me diz
Berras às bestas
Que te sufocam
Em abraços viscosos
Cheios de pavor
Esse frio surdo
O frio que te envolve
Nasce na fonte
Na fonte da dor
Foto: André Carvalho
Local: Ponta Delgada
Data: março de 2013
Citação: André Carvalho
Texto: Xutos e Pontapés (remar remar)


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


O pior não é desconfiar de quem nos rodeia, é desconfiar do próprio destino!


Havia a solidão da prece no olhar triste
Como se os seus olhos fossem as portas do pranto
Sinal da cruz que persiste, os dedos contra o quebranto
E os búzios que a velha lançava sobre um velho manto
À espreita está um grande amor mas guarda segredo
Vazio tens o teu coração na ponta do medo
Vê como os búzios caíram virados p'ra norte
Pois eu vou mexer o destino, vou mudar-te a sorte (bis)
Havia um desespero intenso na sua voz
O quarto cheirava a incenso, mais uns quantos pós
A velha agitava o lenço, dobrou-o, deu-lhe 2 nós
E o seu padre santo falou usando-lhe a voz
Foto: André Carvalho
Local: Manta Rota
Data: abril de 2012
Citação: André Carvalho
Texto: Ana Moura (Búzios)