terça-feira, 23 de abril de 2013

Há 15 anos que não tinha 15 anos



Há 15 anos que não tinha 15 anos!
Já tinha saudades de ter 15 anos. Essa idade onde nos julgamos ser mais do que na realidade somos. Aquela idade em que estamos lá fechados no armário, onde as borbulhas surgiam de dia para dia. Aquela idade em que o corpo cresce, a voz muda, a feições atravessam uma metamorfose constante. A idade do cabelo mais comprido e encebado que o habitual, das t-shirts largas e das calças usadas dias consecutivos só porque nos achamos os mais "cool's" da escola. A idade dos ténis rotos. A idade que temos um estilo que só nós compreendemos.
A idade que não queremos ouvir mãe, não ligamos aos conselhos do pai, detestamos os irmãos e só os amigos é que sabem...amigos esses que também têm 15 anos.
Ter quinze anos é uma espécie de maçonaria juvenil.
Há quinze anos que não tinha quinze anos, é assim que quero pensar. Durante 15 anos muita coisa se viveu...muita coisa se perdeu. Chego hoje aos trinta anos e o único pensamento que tenho ao pensar no que já passou é: "já passaram 30 anos?!" De facto foram 30 anos que voaram como tantos sonhos e planos que durante os mesmos fiz.
Foram 30 anos ao jeito do jogo da glória: um sobe e desce constante cheio de avanços e recuos até chegar à casa onde estou hoje.
Provavelmente atingi o primeiro terço da minha vida. Se podia ter sido escrita de outra forma? podia, mas a vida levou o rumo que o destino quis.
Não entro em dramas da saída dos "vintes", os sonhos dos vintes continuam de pé, os objetivos dos vintes permanecem intactos...Tenho uma vida que há 15 anos não julgava ter.... continua a faltar aquele ou aqueles que tanto quero...que tanto desejo....com os anos chegarão...e aí sim...a vida mudará o seu sentido e o seu valor...a altura em que a nossa vida passa para as mãos de outra(s) vida(s)
até lá continuarei... ontem com 15, hoje com 30, a viver com aquilo que nunca irei dispensar: a capacidade de adormecer tranquilo e andar sempre de cabeça levantada...foram 30 anos assim...serão todos os que se seguem assim.

O sonho esse continuará sempre a comandar a minha vida.


....será o segundo ano sem te ouvir a dar-me os parabéns com essa voz que ouvi desde os primeiros minutos de vida...mas continuas sempre bem viva dentro de mim.

Foto: André Carvalho
Local: Cabanas de Tavira
Data: setembro de 2011
Texto: André Carvalho

quarta-feira, 10 de abril de 2013

sinais


A vida será sempre feita de letras, palavras, frases e sinais de pontuação. 

São os sinais de pontuação que dão sentido a um texto que terminará com um ponto final parágrafo depois da última frase, da última palavra, da última letra escrita. Nesse dia espero poder ir descansado com o texto que escrevi. Espero colocar esse ponto com todo o conforto de que vivi o que tinha para viver, de que fiz feliz quem tinha que fazer. De que ri, de que chorei, de que vi e li o que tinha para rir, chorar, ver e ler. 
Na vida fazemos pausas para pensar, paramos para interrogar, paramos para exclamar ou mesmo pedir alguma coisa. Colocamos reticências quando algo fica por dizer...e às vezes o texto tem tantas reticências que percebemos que só as usamos para poder continuar a escrever aquilo que queremos muito que se escreva e que sabemos que é preferível ter reticências seguidas de palavras bonitas do que ter as palavras amargas que deveríamos dizer, correndo o risco de ter de usar pontos finais. No entanto, pontos finais não querem dizer que mudamos de assunto. Ponto final pode ser um recomeço de uma nova frase com o mesmo assunto. Os pontos finais têm essa vantagem: podemos usá-los como queremos para dar sentido ao nosso texto.
Um parágrafo pode ter muitos sinais de pontuação, o que não pode ter é ideias, assuntos relacionados com parágrafos anteriores. Um texto correto muda de assunto a cada parágrafo. Um texto correto não vem buscar temas a parágrafos anteriores. Cada parágrafo terá de ser escrito com novas ideias. Podemos usar as mesmas personagens, os mesmos locais mas com outro sentimento.
O texto que escrevemos ao longo de dias, anos, décadas ficará guardado num livro que contém milhares de histórias que nada têm haver umas com as outras ....e neste livro o nada é tanto.
O meu texto tem ainda poucas linhas, muitas palavras, algumas frases e muitos sinais de pontuação...com alguns parágrafos, uns voluntários outros forçados ....mas acima de tudo tem no seu autor a certeza de que muitas frases ainda serão escritas nos melhores parágrafos que poderá escrever.


Foto: André Carvalho
Local: Santa Cruz
Data: abril de 2012
Texto: André Carvalho